Para Profissionais

Capítulo 3 do e-book "DTM: uma abordagem dentro do contexto de Saúde Pública"

CAPÍTULO 3: DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES

Nas últimas décadas, avanços substanciais foram conquistados na identificação dos mecanismos, fisiopatológicos e comportamentais, que contribuem para para o surgimento e perpetuação das desordens temporomandibulares (DTM). 

No entanto, e a despeito do progresso alcançado, muitos aspectos relacionados às DTM permanecem controversos, principalmente no que se refere às teorias etiológicas não adequadamente fundamentadas e ao emprego de ferramentas diagnósticas não validadas. 

Para alguns profissionais, ainda persiste a crença nos modelos mecanicistas e na importância da validação das minúcias da oclusão e da posição condilar (GREENE, 2020). Felizmente, a prática baseada nessas opiniões vem sendo progressivamente substituída pela prática baseada em evidências.

Conceitos

As DTM são consideradas um conjunto de condições dolorosas e/ou  disfuncionais, envolvendo os músculos da mastigação e/ou as articulações  temporomandibulares (ATM) (GOLDSTEIN, 1999). Estas condições não  apresentam etiologia ou justificativa biológica comum, caracterizando um  grupo heterogêneo de problemas de saúde (NIH, 1996). De forma geral, as  DTM dolorosas podem ter origem muscular e/ou articular. Já as DTM intra articulares frequentemente envolvem alterações na função e/ou na estabilidade  ortopédica mandibular, não sendo necessariamente dolorosas. 

Contudo, a classificação de pacientes com base apenas no diagnóstico  estrutural e/ou anatômico frequentemente não é suficiente para contemplar  todos os aspectos biopsicossociais envolvidos nestas desordens, muitas vezes  não sendo capaz de possibilitar a individualização, de forma apropriada, das terapias empregadas. Há evidências sólidas de que existem mecanismos centrais  que influenciam a expressão da dor crônica (genéticos, neurofisiológicos,  psicológicos, comportamentais) e que são independentes do local anatômico  da dor e de seus mecanismos iniciadores (trauma, inflamação, lesão neuronal)  (BENOLIEL, 2020). Assim, podem haver desordens dolorosas distintas com  causas distintas que respondem a tratamentos específicos, mas também causas  generalizadas de dor crônica que afetam simultaneamente diversas condições dolorosas, incluindo as DTM.

Sinais e sintomas 

Sintomas característicos, como dor muscular e/ou articular, limitação  da função mandibular e ruídos articulares, podem ser prevalentes, de forma  isolada ou associados, em até 75% da população adulta (SOLBERG, 1979). A  dor por DTM tem como característica o fato de ser, usualmente, produzida ou  agravada pela função, parafunção ou movimentos mandibulares, devendo ser  replicada pela palpação do sítio anatômico da dor (SCHIFFMAN, 2014). Já os  ruídos articulares, na maior parte dos casos, não parecem estar relacionados à dor ou a outros fatores que requeiram, necessariamente, tratamento. 

Entre indivíduos com DTM dolorosa, a presença de outra condição  de dor crônica sobreposta contribuiu substancialmente para a intensidade  da dor relatada (OHRBACH, 2020). Aumentos progressivos de acordo com  o número de condições comórbidas sugerem que a intensidade das dores  musculoesqueléticas pode ser mutuamente aditiva. Assim, parece que isolar  outras condições de dor, mesmo que por razões pragmáticas como focar na  condição de interesse, é contraproducente para a melhor compreensão e  controle das DTM dolorosas. Períodos de dor lombar persistente, por exemplo,  podem resultar em efeitos adicionais na intensidade da mialgia mastigatória ou  artralgia temporomandibular.

- Ricardo de Souza Tesch

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