Muito Além da Dor
Memórias e reflexões de um cronista amador de futebol - pelo Dr. João Henrique Padula
Quem não sonhou em ser um jogador de Futebol?
Sempre tive facilidade com a bola nos pés. Modéstia à parte, desde menino, vivendo em Serra Negra – SP, recebia convites para jogar em times como São Paulo e Ponte Preta, porém sempre tive também muita dificuldade em cumprir com imposição disciplinar. Não gostava de treinar.
Naquela época, ser um jogador de futebol era para quem não servia para fazer outra coisa na vida.
Tive outra chance, em Uberaba, quando ingressei na faculdade de Odontologia (FIUBE). Cheguei com recomendações dos antigos técnicos para jogar profissionalmente no Nacional F.C., clube local. Logo no primeiro período, o diretor da faculdade me chamou para ajustarmos a agenda das matérias com os treinos. Não foi dessa vez. Nunca apareci para treinar.
Já formado, recebi outro convite do técnico Prof. Carlinhos Gilli (ex craque do São Paulo FC, que teve a carreira abreviada por séria contusão) para jogar na série B do campeonato paulista pelo Serra Negra E.C.. Aceitei e joguei por 2 anos. Assinei a carteira da CBF, ganhava um salário mínimo e tive a chance de enfrentar veteranos jogadores importantes do passado que encerravam a carreira em clubes de menor expressão.
Eu era um jogador técnico de armação de jogadas, meia direita como se dizia à época. Camisa 8, batia todas as faltas, porém era preguiçoso quando se tratava de marcar o adversário. Naquela época se falava que quem sabia jogar não tinha obrigação de marcar. Sabe como é: sempre pensamos que jogamos mais do que realmente jogamos...(rs). Para quem conhece um pouco do jogo, na recomposição de marcação, eu fazia uma ”sombra no volante”.
Nos anos 80 o Brasil tinha um ídolo que retratava bem essa história de não levar muito a sério a palavra “atleta” e, ao mesmo tempo, decidir os jogos: Dr. Sócrates.
Segue trecho de uma das minhas crônicas, escrito após o seu falecimento, em que tive a pretensão de retratar quem foi Sócrates dentro do campo:
Sócrates era cerebral. Sempre de cabeça erguida, ele regia a direção da bola com a maestria de um regente de orquestra.
Sócrates vinha no meio de campo descomplicar o que os outros jogadores estavam fazendo. Chegava, metia uma tacada de sinuca na bola e clareava a jogada. Armava o time, lançava, colocava os atacantes na cara do gol, arrancava pelas laterais do campo, batia faltas e também fazia muitos gols.
Sócrates não precisava ajeitar o corpo para tocar na bola. A bola chegava e saía de seus pés despercebidamente. Ele não mudava a passada. Sem muito esforço, “calcanhar de Sócrates”, jogava naturalmente.
A sua maneira de jogar “de primeira” encaixou-se perfeitamente às características de Zico, quando jogaram juntos, na copa de 1982. Zico, diferente dele, jogava em 2 tempos, dominava a bola no primeiro toque e a soltava no segundo. Sócrates e Zico, somados a Falcão e Cerezo, formaram um dos maiores meio de campo da história do futebol.
Sócrates era cerebral e nos iludiu! Ele nos fez pensar que um jogador de futebol não precisaria ser atleta! Entretanto, a regra só valia para ele. Somente Sócrates conseguia jogar num time de massa como o Corinthians sem evidenciar a garra exigida pela sua torcida. O seu talento sobrepunha-se à raça esperada!
Até os meus 47 anos, nunca deixei de jogar. Hoje não tenho mais esse privilégio por conta de uma artrose/prótese na perna esquerda, resultado de tantos jogos e gramados irregulares.
De qualquer forma nunca deixei o futebol. Meus amigos até hoje me falam que eu poderia ter ido mais longe. Vale a máxima: Se os meus amigos falam, eu concordo! Hoje, sem nenhum compromisso, escrevo sobre o assunto com foco nas análises táticas. Tenho um blog: futebol dentro do Campo e também escrevo no jornal Folha de Brasília.
Sem nunca desistir da jogada, entro em outro campo não menos atraente. O campo da escrita. E como diria o filósofo, continuo próximo do futebol que é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes da vida.
O meu site wordpress (futebol dentro do campo) surpreendentemente tem mais audiência que o meu blog sobre DTM e Dor Orofacial. Dia desses falei isso para minha filha que me respondeu: Isso aí é óbvio, né, pai?
Autoria: Dr. João Henrique Padula
Sempre tive facilidade com a bola nos pés. Modéstia à parte, desde menino, vivendo em Serra Negra – SP, recebia convites para jogar em times como São Paulo e Ponte Preta, porém sempre tive também muita dificuldade em cumprir com imposição disciplinar. Não gostava de treinar.
Naquela época, ser um jogador de futebol era para quem não servia para fazer outra coisa na vida.
Tive outra chance, em Uberaba, quando ingressei na faculdade de Odontologia (FIUBE). Cheguei com recomendações dos antigos técnicos para jogar profissionalmente no Nacional F.C., clube local. Logo no primeiro período, o diretor da faculdade me chamou para ajustarmos a agenda das matérias com os treinos. Não foi dessa vez. Nunca apareci para treinar.
Já formado, recebi outro convite do técnico Prof. Carlinhos Gilli (ex craque do São Paulo FC, que teve a carreira abreviada por séria contusão) para jogar na série B do campeonato paulista pelo Serra Negra E.C.. Aceitei e joguei por 2 anos. Assinei a carteira da CBF, ganhava um salário mínimo e tive a chance de enfrentar veteranos jogadores importantes do passado que encerravam a carreira em clubes de menor expressão.
Eu era um jogador técnico de armação de jogadas, meia direita como se dizia à época. Camisa 8, batia todas as faltas, porém era preguiçoso quando se tratava de marcar o adversário. Naquela época se falava que quem sabia jogar não tinha obrigação de marcar. Sabe como é: sempre pensamos que jogamos mais do que realmente jogamos...(rs). Para quem conhece um pouco do jogo, na recomposição de marcação, eu fazia uma ”sombra no volante”.
Nos anos 80 o Brasil tinha um ídolo que retratava bem essa história de não levar muito a sério a palavra “atleta” e, ao mesmo tempo, decidir os jogos: Dr. Sócrates.
Segue trecho de uma das minhas crônicas, escrito após o seu falecimento, em que tive a pretensão de retratar quem foi Sócrates dentro do campo:
Sócrates era cerebral. Sempre de cabeça erguida, ele regia a direção da bola com a maestria de um regente de orquestra.
Sócrates vinha no meio de campo descomplicar o que os outros jogadores estavam fazendo. Chegava, metia uma tacada de sinuca na bola e clareava a jogada. Armava o time, lançava, colocava os atacantes na cara do gol, arrancava pelas laterais do campo, batia faltas e também fazia muitos gols.
Sócrates não precisava ajeitar o corpo para tocar na bola. A bola chegava e saía de seus pés despercebidamente. Ele não mudava a passada. Sem muito esforço, “calcanhar de Sócrates”, jogava naturalmente.
A sua maneira de jogar “de primeira” encaixou-se perfeitamente às características de Zico, quando jogaram juntos, na copa de 1982. Zico, diferente dele, jogava em 2 tempos, dominava a bola no primeiro toque e a soltava no segundo. Sócrates e Zico, somados a Falcão e Cerezo, formaram um dos maiores meio de campo da história do futebol.
Sócrates era cerebral e nos iludiu! Ele nos fez pensar que um jogador de futebol não precisaria ser atleta! Entretanto, a regra só valia para ele. Somente Sócrates conseguia jogar num time de massa como o Corinthians sem evidenciar a garra exigida pela sua torcida. O seu talento sobrepunha-se à raça esperada!
Até os meus 47 anos, nunca deixei de jogar. Hoje não tenho mais esse privilégio por conta de uma artrose/prótese na perna esquerda, resultado de tantos jogos e gramados irregulares.
De qualquer forma nunca deixei o futebol. Meus amigos até hoje me falam que eu poderia ter ido mais longe. Vale a máxima: Se os meus amigos falam, eu concordo! Hoje, sem nenhum compromisso, escrevo sobre o assunto com foco nas análises táticas. Tenho um blog: futebol dentro do Campo e também escrevo no jornal Folha de Brasília.
Sem nunca desistir da jogada, entro em outro campo não menos atraente. O campo da escrita. E como diria o filósofo, continuo próximo do futebol que é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes da vida.
O meu site wordpress (futebol dentro do campo) surpreendentemente tem mais audiência que o meu blog sobre DTM e Dor Orofacial. Dia desses falei isso para minha filha que me respondeu: Isso aí é óbvio, né, pai?
Autoria: Dr. João Henrique Padula